eu, eu mesma e maria

e agora quem mais quiser...

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

eternas contradições

é fato. tenho mania de perseguição.
demorei para aceitar e, como parece óbvio, vou demorar para tratar. anos e anos de terapia profunda. já me resignei.
e digo que demorei para me conscientizar disso (que hoje vejo como um grande defeito), pois sempre quando as pessoas me diziam: "maria, isso é coisa da tua cabeça", "maria, deixa de pensar bobagem", "maria, tu estás exagerando", pensava: não! vocês que não estão enxergando, olha aí, está tudo muito claro! estão armando contra mim! estão falando mal de mim! estão me boicotando! julgam-me sem me conhecer! têm inveja de mim!
e nisso ia me armando mais, sempre na intenção de me fortalecer... hoje chamaria diferente: "fechando-me".
que loucura...
o tempo foi passando, fui amadurecendo, e as pessoas à minha volta sempre repetindo as mesmas frases... e olha que elas vinham das pessoas mais inusitadas... das que eu mais admirava até as que eu mais desprezava... diante disso, resolvi dar-lhes ouvidos e comecei a tentar olhar pra mim, como se estivesse fora de mim... um olhar distante sobre a redoma da minha vida, na busca de uma parcialidade quase impossível de ser alcançada, mas muito desejada.
hoje vejo que muito do que eu jurava que estava vendo ou sentindo só existia na minha cabecinha inventiva mesmo... tá! admito que ainda acredito demais no meu sexto sentido, e juro que muitas dessas vezes eu é que estava certa... por outro lado, prefiro acreditar que eu estou errada, e as pessoas só querem o meu bem... e faço um exercício mental diário para conseguir meu objetivo.
aliás, sempre fui um misto de contradição e obviedade. esta última, com certeza, uma das coisas que mais me irrita na vida e, por isso mesmo, não exagero quando digo que "me irrita a mim". por demais...
ao mesmo tempo em que idealizava tudo e a todos, sentia uma grande frustração ao perceber que tudo (ou quase tudo) ao meu redor me parecia tão ridiculamente óbvio, inclusive eu, na tentativa de querer ser (e não parecer) diferente, e me destacar em meio àquela multidão de iguais.
na época da escola, sentia-me um peixe fora d'água às vezes... isso porque não conseguia entender, tampouco lidar, com aquilo que vim a saber mais tarde, faz parte do ser humano, e é muito mais comum do que deveria ser: a falsidade!
no auge da minha ingenuidade (sim, isso existia naquela época), ficava espantada quando via algumas coleguinhas falando e agradando umas às outras e, logo após darem as costas, estavam todas a se desdizerem, falando mal umas das outras. só pensava: por que ficam falando coisas bonitas ao invés de falarem o que pensam de verdade, oras!
passagens como essa, aliás, se sucederam por toda a minha vida, e é estranho como podem me causar tanto desconforto até hoje...
inclusive uma engraçada, ainda naquela época de primeiro grau (hoje ensino fundamental), numa escola de uma cidadezinha do interior...
uma das minhas colegas de aula, que até então eu chamava de amiga, estava me irritando profundamente com essas histórias de falsidade... num ato bem espontâneo, e como se fosse a coisa mais natural do mundo, chamei-a para uma conversa e disse: - fran, não me leva a mal, mas precisamos dar um tempo na nossa amizade... tempo? ela me olhou com um ar surpreso, por óbvio, e lascou: - mas nós lá somos namoradas pra dar um tempo?

tá certo... ela tinha as razões dela, e eu, as minhas. mas, naquele momento, só consegui pesar as minhas, e concluí dizendo que estava perturbada com o fato de não saber quem ela era de verdade, já que, dependendo de quem estava com ela, se comportava de um jeito, e se fosse outro tipo de pessoa, era de outro... e eu a pensar: mas e quando não estou com ela? como ela é? o que pensa de verdade? deve falar mal de mim, claro (olha aí a mania de perseguição marcando presença)...

depois disso seguiram-se tempos não muito fáceis... tempos de superação, pois, até então, vivia em meio a certa estabilidade em termos de amizade, a qual me incomodava um pouco, mas que também não era das piores... hoje vejo.
naquela época não... não via nada disso, só queria estar em paz comigo mesma e saber que eu não compactuaria com aquelas atitudes. e pensei que poderia arrumar amigas mais verdadeiras e seria bem mais feliz. tentei. tentei e fracassei, pois me dei conta de que, no fundo, no fundo, o ser humano é falso. todos somos, um pouco mais, ou um pouco menos. e aqui me incluo, pois não há como sermos sinceros 100% o tempo todo. juro que já tentei, e confesso que me dei muito mal.
afinal, vivemos em sociedade, precisamos agradar uns aos outros, precisamos elogiar, precisamos dizer inverdades, às vezes. é claro que não me incluo na categoria dos falsos contumazes, também chamados de hipóctritas - esses têm o meu total desprezo. por isso, jamais conseguiria ser política. mas se a intenção for boa, penso que uma mentirinha pra agradar não faz mal a ninguém...
de qualquer modo, para resumir a história do colégio (que renderia diversos posts), tive muitas decepções depois daquele episódio, mas dela guardei diversos ensinamentos... afinal, abandonei o meu comodismo para me aventurar em mundos desconhecidos e fazer uma coisa que até hoje me é complicado: novas amizades...

algumas pessoas me acham extrovertida e falante, mas confesso que gostaria imensamente de ser uma pessoa mais aberta... é realmente muito difícil para mim começar um relacionamento, seja lá de qual espécie ele seja... nunca foi fácil. aliás, lembro de ter lido, ainda naquela época, num destes livros sobre personalidade, que eu era como as crianças: quando não conhecia o ambiente ou as pessoas ao redor, ficava só observando tudo, para, com o passar do tempo, ir me soltando... e fiquei com isso na cabeça desde então...

engraçado como sempre precisei que algo ou alguém me definisse... estranho dizer isso, mas sempre fui assim: preferia que alguém dissesse algo sobre mim, para só depois dizer se concordava ou não... nunca partia de mim algum tipo de conceituação. sempre pensava a respeito do que ouvia, mas também difilmente concordava... só com aquilo que me convinha.

com o passar do tempo fui me dando conta de que não tinha que tentar esconder os meus defeitos - por ser algo simplesmente impossível. aliás, vejo que o feio não é ter defeitos, já que todos os temos, mas sim, não procurar trabalhá-los. passar uma vida inteira reclamando de tudo, sem olhar para o lado e ver que tem gente em bem pior situação, por exemplo. estagnar-se em situações "cômodas", por puro medo de tentar. viver em meio a mentiras para evitar se abrir de verdade...
hoje vejo que preferia chamar de mania de perseguição, aquilo que seria, na verdade, a tentativa de fugir do conceito que as pessoas têm de mim, a partir de um conceito que eu mesma transmito.
explico: se eu sempre fui aquela que disse as verdades, doa a quem doer, num mundo onde a maioria das pessoas não quer mesmo ouvir a verdade; se eu sempre tive um pouco de dificuldade de demonstrar sentimentos, muito em razão da criação que tive (cercada de muito amor, mas com certa limitação em termos de demonstrações afetivas); se eu sei que só consigo dar um elogio quando é sincero (e as pessoas não os têm merecido muito, mas mesmo assim os esperam), como é que imagino que as pessoas vão morrer de amores por mim e me considerar a pessoa mais querida do mundo? definitivamente não sou! gostaria de ser, mas não sou. gostaria de ser aquela que chama de "meu anjo", que dá beijos toda hora, que está sempre pendurada em alguém, no colo, que se abre, que pede socorro.
eu não!
eu sou aquela tida como "fortaleza", como "porto-seguro" dos outros... família, marido, colegas, amigos, etc. sendo assim, quando preciso de ajuda, como não consigo dizer com todas as letras, ninguém percebe, afinal, a maria não precisaria de ajuda... não... ela é forte "como uma rocha". uma vez ouvi essa expressão do meu namorado - hoje marido. quase caí dura! mais um dos conceitos sobre os quais falava acima: no fundo eu sabia, mas doeu ouvir... ainda mais porque não queria que fosse assim. queria ser mais frágil, talvez... os homens, aliás, preferem as frágeis às super-mulheres... mas logo me revelo, e mostro a mulher forte que sou, independente, que sabe se virar muito bem sozinha, obrigada!
e esses dias me dei conta do motivo pelo qual as pessoas, depois de me conhecerem um pouco melhor, falarem: - nossa! eu achei que tu eras tão chata, meio metida até... cara de "cheia"!
é que num ambiente em que não conheço ninguém, sou muito sisuda. do tipo cara-amarrada mesmo. se ninguém fala comigo, fico sem falar o tempo inteiro, pois não puxo conversa com ninguém...
e é engraçado - mais uma das contradições da minha vida - mas as pessoas sempre puxam conversa comigo... principalmente as pessoas mais velhas, seja no supermercado, na feira, no elevador, na loja... daí tento ser querida... aliás, tenho certeza de que as pessoas pensam: - tinha a maior cara de chata, mas até que é legal quando abre a boca... falo isso, pois fica estampado na cara delas a surpresa...
então passei a frequentar o que chamo de meu "primeiro estágio de evolução" - a aceitação de mim mesma.
nesse primeiro estágio, tenho procurado aceitar a minha personalidade, tentando, por outro lado, adaptá-la às minhas necessidades - se bem que tem sido muito difícil... tentando demonstrar mais os meus sentimentos (bons), tentando não ser tão sisuda, tentando não levar as coisas tão a sério, tentando ser mais aberta, mas, principalmente, mais frágil (no sentido de pedir mais ajuda quando preciso).
quanto às minhas obviedades, elas estão tão presentes aqui, que acho que nem precisava mencioná-las, pois, ao invés de ser aquela pessoa que escreve maravilhosamente bem, eu sou esta pessoa óbvia que fica estampada em cada palavra.
gostaria de ser mais criativa, no fundo, gostaria de ser surpreendente!
mas só consigo ser eu mesma por enquanto: óbvia e contraditória...

Nenhum comentário: