eu, eu mesma e maria

e agora quem mais quiser...

domingo, 25 de janeiro de 2009

uma grata surpresa...


difícil mesmo é colocar em prática a teoria... como diz a minha mãe querida: -minha filha, na prática, a teoria é outra...

então é assim, vivo tentando praticar o exercício de não julgar as pessoas antes de conhecê-las e puft! aparece alguém completamente diferente do "convencional", que me faz confundir tudo o que acredito e pronto! já estou a julgá-la sem com ela ter trocado uma única palavra.

conheci a iolanda no cursinho preparatório que fiz para o último concurso. logo no primeiro dia, sentou-se ao meu lado puxando conversa, como se já nos conhecêssemos há tempos... pareceu-me de pouca idade e, pelo sotaque, via-se que não era natural deste estado. contou-me que era casada e já tinha um filho de um ano e meio, que não tinha se formado ainda, que morava em uma rua perigosa (onde naquela mesma semana tinham matado um menino para roubar-lhe os tênis), que gostava de ler, que não estava trabalhando e que o marido pagara-lhe o curso...

toda essa conversa se passou até o intervalo, quando uma vizinha aqui do prédio, a dani (que eu não conhecia muito bem - apenas trocávamos cumprimentos quando nos encontrávamos), veio falar comigo... confesso que senti um pouco de alívio, e isso por dois motivos: não precisaria puxar conversa com ninguém (já disse que isso é um problema pra mim, né?) e, de quebra, ainda me livrava da tagarela da iolanda...

estranhamente, a partir do segundo dia, a iolanda passou a não me cumprimentar... até hoje não sei se ela percebeu meu ar de indiferença e ficou chateada (com toda a razão), ou me confundiu com a dani (já que temos um biotipo meio parecido, ambas loiras de olhos verdes, do tipo mignon), pois sempre que a encontrava, cumprimentava-a sorridente, e perguntava do trabalho dela e outras coisas...

um dia, intrigada, a dani me comentou: -não entendo esta menina... sentei ao lado dela somente uma noite, mal conversamos, e ela sempre me pergunta do meu trabalho e da minha vida... meio doidinha ela neh?

confesso que concordei... ela era muito diferente da gente... não só pelo sotaque, mas pelo seu comportamento como um todo... era super espontânea, original, falava bem alto, não se importava muito com a aparência (por aqui isso não é muito comum), saía conversando com qualquer um como se fossem velhos amigos... mas, às vezes, era meio inconveniente... no meio da explicação do professor, ela fazia uma pergunta de cunho pessoal, ou contava uma passagem da sua vida, algo que tirava um pouco da concentração dos colegas e a minha também, e isso irritava um pouco...
nessa primeira turma, éramos mais ou menos 80 colegas, se não mais... havia quem amasse e quem odiasse a iolanda, mas todos a conheciam - ela não passava em branco... eu, pra ser bem sincera, estava mais pro lado do pessoal que não a suportava...

isso perdurou até que mudamos de módulo, e a turma ficou bem menor - não passávamos de 15 pessoas agora... a dani já não era mais minha colega, e eu estaria de novo sozinha, tendo de me aventurar em novos terrenos...

a par da importância de conhecermos pessoas e ter de interagir com elas, penso que experiências como essa nos fazem, principalmente, observar as pessoas... olhá-las como se estivéssemos em um filme, analisando-as e percebendo-as, de uma forma que não seria possível se estivéssemos entre elas.

e durante esse período, eu observei atentamente a iolanda, pois algo nela me despertava muita curiosidade...

como estávamos em número bem menor, ela pôde se expor mais, a ponto de se tornar sempre o centro das atenções... oferecia material de estudo, não tinha vergonha de falar das suas dificuldades, mostrava, orgulhosa, as fotos do filho (lindo, lindo), pedia carona, pois tinha de pegar dois ônibus para chegar em casa (e chegava quase meia-noite, depois de ter passado o dia fora), o marido trabalhava viajando, então, mal parava em casa... contava as histórias da sua vida e, mesmo que elas fossem um pouco tristes, sempre vinham carregadas de um sentimento positivo, uma esperança, algo como vitória só por estar ali, não sei explicar, e no final, sempre um pedido para que deus a ajudasse a superar as dificuldades, e que ela passasse no concurso para que pudesse se dedicar mais ao seu filhinho...

um dia, cheguei em casa com vontade de falar sobre ela com o meu marido, e perguntar o que ele achava de eu oferecer carona, já que morávamos relativamente perto, e eu ia de carro todos os dias para o cursinho...

o fábio, meu marido, é uma pessoa muito sentimental e extremamente sensível... as coisas que aprendi com ele levarei para o resto da minha vida, e sei que hoje sou uma pessoa muito melhor por causa dele... um dia escrevo mais sobre ele e a nossa linda história...

e, como não poderia deixar de ser, ele me deu todo o apoio, dizendo que, pelas coisas que eu falava, ela merecia, e que seria muito bom ajudar alguém que merece...

no dia seguinte, enquanto me dirigia para a aula, ia pensando e ensaiando o que eu diria para aquela menina com a qual mal falava, a quem um dia tinha negado atenção... será que me trataria com indiferença? será que negaria a minha oferta? estaria magoada? não ia achar estranho que, de uma hora pra outra, eu oferecesse carona se nunca, sequer, nos falávamos?

mil pensamentos rondavam a minha cabeça, e naquele primeiro dia, não achei a oportunidade de chegar até ela, talvez porque nunca estivesse sozinha... nem no segundo, nem no terceiro dia...

no quarto, pensei: oras! que covardia a minha! o máximo que vai acontecer, é ela me dizer que não quer... e até aí tudo bem, pois teria feito a minha parte...

quando saíamos para o intervalo, passei pelo grupo de colegas onde estava conversando e disse: -oi iolanda, vi que vc comentou outro dia que mora perto da minha casa, se quiser carona qualquer dia desses, é só me avisar...

nunca vou esquecer da reação dela... olhou-me com um olhar meigo, de gratidão, tocou no meu braço e me disse: -oh, maria, muito obrigada!! obrigada mesmo!! hoje não volto com você, pois o meu marido está na cidade e ele vem me buscar... mas quando ele não puder vir, eu aceito sim... obrigada!! muito obrigada mesmo!!

pronto! a minha parte eu tinha feito... apesar de ter ficado um pouco decepcionada, pois queria realmente que ela voltasse comigo, fiquei feliz por saber que o marido dela ia buscá-la, pois vi o quanto ela estava feliz com isso...

depois daquele dia, ela sempre me cumprimentava sorridente, puxava um assunto meio tímida (só comigo, não entendo), mas não voltava comigo... pedia carona sempre para uma outra colega... nos primeiros dias até pensei que, já que tinha desdenhado a minha carona, no dia em que a tal colega não fosse, ou não pudesse dar carona pra ela, eu ia dar qualquer desculpa, mas não ia levá-la... depois pensei que era bobagem, afinal, se ela se sentia mais à vontade com a outra, o que eu poderia fazer?

e esse dia chegou... o marido não estava para buscá-la, e a tal colega faltou aula... no intervalo, perguntou-me se poderia ir comigo, ao que respondi, sorridente: -claro! será um prazer...

e assim foi... falei, falei, falei; ela falou, falou, falou... aliás, ela deve ter se surpreendido com o quanto eu falei, pois estava acostumada a me ver sempre calada, cara sisuda, aquela coisa toda...

de qualquer modo, a coisa fluiu ao natural, e desde aquele primeiro dia, sempre voltamos juntas para casa, trocando idéias sobre estudo, família, projetos, sonhos, enfim, sobre a vida... parecíamos velhas amigas agora...

um dia antes da prova, tivemos uma aula de revisão que durou o dia inteiro... ela estava cansada, com fome, mas sempre com o seu olhar esperançoso e confiante, desejando a mim e aos colegas mais chegados que se saíssem bem na prova... nesse dia, eu disse para ela o que tinha dito para meu marido no dia anterior: que, nas minhas orações, tinha pedido pra Deus que eu, ele, a minha irmã, e ela passássemos no concurso - e era verdade, pedi de coração... ela ficou muito emocionada, e senti que tinha acreditado...

logo no dia seguinte à prova, bem cedo, o telefone tocou, e era a iolanda... um pouco desanimada, com medo de que tivesse ido mal, principalmente porque tinha muita dificuldade em português... falou-me de toda a expectativa da família, do marido que tinha pago o cursinho pra ela, que acreditava no seu esforço e na sua vitória... tentei confortá-la, dizendo que esperasse o resultado, para que tivesse fé, essas coisas...

nos dias que se seguiram, a iolanda me ligou praticamente todos os dias, sempre naquele horário... contou-me que ia falar com o seu ex-chefe, que agora era sócio em um curso preparatório para concursos, para ver se conseguia uma bolsa de estudos, pois não queria desistir de estudar... eu disse que ia torcer por ela, e que ia dar tudo certo... e torci de verdade...

o resultado do concurso saiu, tivemos um desempenho bem parecido, mas, logo depois, a prova foi anulada, devido a várias irregularidades...

veio o final do ano, fiquei fora um tempo, e não tinha mais falado com a iolanda... mas pensei nela algumas vezes, torcendo, do fundo do coração, para que ela conseguisse a bolsa que tanto queria, pois, como disse antes, ela merece de verdade...

ontem, grata surpresa, ela me ligou no meio da tarde: -oi maria!! -oi iolanda!! como vai? quanto tempo?? -vc me reconheceu, ainda lembra da minha voz, ela disse... -mas é claro! como ia esquecer?

-estou ligando, pois amanhã é meu aniversário, e queria que tu e o teu marido viessem aqui em casa comer um churrasquinho. vai ser bem intimista, só a família e vocês...

confesso que fiquei surpresa e honrada com o convite mas, infelizmente, tive que recusá-lo, pois já tínhamos outro compromisso... mas consegui dizer a ela que tinha ficado super feliz por ter lembrado de mim, e queria fazer algo aqui em casa com eles para retribuir o convite...

ela me confessou que, durante todo esse tempo que mora aqui, só convidou duas pessoas para irem na casa dela, eu e uma outra menina... que sabe que sou uma pessoa do bem, de coração bom, que não sou invejosa, e sente que pode me contar as coisas e dividir seus sonhos comigo... contou-me que conseguiu a bolsa de estudos que tanto queria, e me convidou para assistir a primeira semana de aulas com ela... disse também que, assim que surgir uma bolsa, ela vai me indicar, pois sabe que eu mereço...

nossa! eu tenho que admitir que adoro demontrações de carinho, mas elas ainda me constrangem um pouco... de qualquer forma, eu fiquei extremamente feliz por saber que desperto sentimentos bons nas pessoas, ainda mais quando se trata de alguém tão especial como a iolanda...

minha querida iolanda! hoje é teu aniversário, e eu quero deixar registrado (mesmo que vc não leia aqui, vou ligar para te dizer) os meus parabéns pelo teu aniversário, mas, principalmente, por vc ser esse ser humano único, tão rico de amor, de esperança, de pureza, de encanto, de generosidade... o mundo precisa de mais exemplos como o seu, que há de vencer na vida pelos seus próprios méritos, porque corre atrás, porque vence as dificuldades, porque vê o lado bom da vida, porque se doa, porque sabe se levantar depois de cada tombo...

fica aqui o carinho de uma pessoa que aprende a cada dia com vc, e um dia, quem sabe, perderá esta terrível mania de julgar os outros sem conhecer...

agradeço a Deus por ter te colocado no meu caminho, e peço que ele ilumine e guie os teus passos para esta vitória que é tão desejada e tão merecida - tão sua...

um beijo grande, do tamanho deste seu coração, que ensina a todos que com vc convivem, que o mundo pode ser melhor, e podemos ser sempre melhores para aqueles que merecem...

maria.

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